11 de junho de 2014

"The fault, dear Brutus, is not in our stars, but in ourselves..."

Olá! Como alguns devem ter deduzido o post de hoje vai ser sobre o livro A Culpa é das Estrelas do John Green. Vai ser longo e cheio de texto. Eu li o livro pela primeira vez no ano passado por recomendação de um amigo e me apaixonei perdidamente pela história e pelos personagens, assim que fiz a conexão que o escritor do livro era o irmão de um youtuber que tinha feito ótimas musicas sobre Harry Potter que eu gostava fui atras de saber mais sobre eles e assistir os videos do canal Vlogbrothers e dos outros que eles produzem/são parceiros. 
Ao assistir esses videos pude ver o livro de uma outra perspectiva. Em vários deles, principalmente desde que o livro foi confirmado para virar filme, o John fala sobre como foi escrever o livro, sobre as metáforas dentro dele, as piadas internas, os significados por trás das palavras. Quero contar aqui pra vocês um pouco sobre o livro mas não vai ser um resumo da história e sim o que eu aprendi sobre o que esta por trás dela, pensamentos e discussões que vem assombrando meus pensamentos a dias.

Se você não leu o livro e nem viu o filme o resto desse post vai ser um grande spoiler fique avisado.


Quero começar pelo titulo do livro, ele foi retirado da citação "A culpa, caro Brutus, não é de nossas estrelas, mas de nós mesmos, que somos subordinados". Em um dos seus videos o John explica que era para ser uma piada, uma metáfora. As estrelas aqui são um simbolismo para o destino, a culpa não é na verdade das estrelas (ou do destino, ou de deus), podemos querer culpa-las pelo que sofremos e pela nossa vida mas as nossas ações são nossas, o que fazemos, como somos, depende de nós.
Você pode querer culpar uma doença por estar deprimido mas na verdade a culpa é nossa, como reagimos a coisas ruins depende de nós. É fácil culpar o desconhecido, deixar que uma coisa predestinada decida as nossas vidas, que era pra ser assim, mas nós é que deixamos que elas aconteçam, nós que temos o poder de muda-las.
A citação é de uma peça de Shakespeare onde Cassius tenta convencer Brutos a matar César dizendo que a culpa de César estar no poder não é das estrelas mas sim deles mesmos que não fizeram nada para mudar isso.


Em uma entrevista no reddit o John explicou o porque de ter escolhido os nomes Hazel e Augustos para os personagens principais:
"Sobre nomes: Um dos benefícios de nomear personagens que você não tem quando, vamos dizer, você vai nomear um bebê é que você realmente conhece a pessoa quando você nomeia ela. Então você pode usar o nome para refletir coisas sobre eles.
Como, com a Hazel: Hazel (em português avelã) é uma cor entre-cores, e ela esta entre diversas coisas: Entre saúde e doença, entre ser um adulto e uma criança, entre respirar ar e respirar água, etc. Então parecia uma pequena maneira de comunicar a instabilidade e o medo (mas também o entusiasmo) daquela época da vida.
Com o Augustus: Augustus é o nome de imperadores romanos, certo? É um grande nome associado com uma noção tradicional de grandeza. Mas Gus é um nome de criança. É curto e fofo. No livro, ele faz a jornada de grandeza para fraqueza, que é o oposto da jornada normal de um herói. Ele começa sendo esse cara confiante, que é extremamente dramático em todas as suas ações. E então ele se torna vulnerável. Para Gus, esse é um processo brutal.(Lembra no final quando ele fala para a Hazel, 'Você costumava me chamar de Augustus?') Mas a sua habilidade de estar lá com ela, e de se permitir amar e ser amado independente de perder o eu que ele tinha tão cuidadosamente cultivado, é na minha mente muito mais heroico que essas noções de Grandes Homens Fazendo Grandes Coisas." (você pode ler o original no link, tradução livre)
Ler essa explicação, os significados profundos dentro deles fez com que meus olhos lacrimejassem todas as vezes que ela falava o nome dele enquanto eu via o filme pela primeira vez.

Os personagens são unidos primeiramente por seus livros favoritos e eles refletem os seus maiores medos. O livro favorito do Augustus é "O Preço do Alvorecer" uma adaptação do vídeo game favorito dele, no livro o personagem Max Mayhem é um Herói com h maiúsculo, sempre salvando todo mundo, se sacrificando por todos e sempre sobrevivendo independente da situação ele sempre sai vivo e vitorioso. Para ele o Max é tudo o que ele quer e não pode ser. 
Já no livro "Uma Aflição Imperial" temos a história de uma menina com quem a Hazel se identifica, uma história que ajudou ela a passar pelos momentos difíceis do câncer, que entende como é estar morrendo. Mas que não conta a história daqueles que vivem depois que a personagem principal morre e é isso o que a Hazel mais quer saber, o que vai ser das pessoas que ficam. 


No final do livro quando a Hazel termina de ler a carta do Gus ela fala "I do Augustus I do", eu aceito, o que falamos quando casamos com alguém, essa fala pode representar a união entre eles, que o amor deles é para sempre, dentro do pequeno infinito das suas vidas. Não é por que ele se foi que ela deixou de ama-lo. No filme eles colocam ela em um vestido branco para fazer essa representação.


A minha parte favorita do filme é o sucesso que ele fez. O maior desejo do Gus era ser reconhecido, deixar uma marca no mundo e com o filme ele conseguiu isso. O seu nome e rosto esta em todos os lugares, todo mundo sabe quem ele é. Não pude deixar de chorar no filme quando ele fala pra ela no final que ainda não suporta ser esquecido: de felicidade por ele ter conseguido o que sempre quis e de tristeza por ele ser ficcional e nunca poder saber o quanto é amado, o quanto a sua história importa pro mundo

O livro é recheado de grandes citações e o tumblr, facebook, instagram e toda a internet estão cheios delas. Algumas vão ser mais significativas para uns que para outros, depende de cada um descobrir o significado delas para si:


Me preparando para a estréia do filme eu: assisti e li a todos os livestreams e todas as entrevistas com o autor e vi as fanarts no tumblr durante a semana do filme; na segunda-feira pintei as minhas unhas no tema; três dias antes da estréia comprei o ebook em inglês do livro no aplicativo da Kobo no meu celular e li em dois; usei azul de domingo a quinta-feira; no dia da estréia eu já tinha o meu ingresso comprado pra primeira seção legendada aqui da cidade; meu almoço foi repleto de comidas laranjas; a janta foi composta por "comida de café da manhã"; na sexta usei preto, de luto, e branco, por que a vida continua.

Foi uma estréia que me consumiu por completo. Eu só conseguia pensar nisso e falar sobre isso. Cada linha, cada palavra que eu lia era outra a ser analisada a ser memorizada. Fui sozinha no cinema pois sabia que ia ser nerd e pateticamente sentimentalista o filme inteiro, não conseguiria prestar atenção em quem quer que estivesse comigo, era um momento meu, entre mim e a história. Comecei a chorar antes do filme começar durante o trailer de Maze Runner e não parei até uns 20 minutos depois do filme terminar, duas horas depois meus olhos estavam ainda vermelhos e inchados, e a vontade de chorar ainda dentro de mim. É uma história triste: sim, eu chorei só por causa disso: não. Meu choro era principalmente por poder presenciar tão vividamente a história, de ouvir as falas que eu tinha lido e relido que eu tinha ficado tanto tempo pensando sobre, ver os cenários onde tudo aconteceu, e ficar pensando em todos os momentos felizes que logo o triste viria, toda vez que ela falava Augustus que logo ele se tornaria Gus. Ri muito também, o humor e as piadas da história são exatamente o meu tipo de humor.


Um livro é uma conversa, entre o autor e o leitor. O John sempre repete isso, um livro não existe por si só, ele precisa de um leitor para completar o seu significado. Cada um vai ler, lembrar e relacionar o livro da sua maneira, fazer as suas interpretações das situações descritas. 
Pra mim a luta deles, não contra o câncer mas contra os estigmas, é o que mais me chamou atenção. Essa história não é sobre câncer é uma história de amor entre dois adolescentes que infelizmente tem câncer, eles não são melhores ou piores que ninguém por causa da doença. Eles tem que enfrentar algumas dificuldades que outros não tem. Mas a minha interpretação é que a diferença entre nós e eles alem dessas dificuldades é que eles sabem que vão morrer jovens. Uma das falas da Hazel é: depressão não é um efeito colateral de ter câncer, é um efeito colateral de morrer. E eu não concordo, todos estamos morrendo a cada dia que vivemos estamos cada vez mais perto da morte. A diferença é que eles sabem que vão morrer logo e são cercados por lembretes dessa morte iminente, enquanto nós pessoas saudáveis somos cercados por lembretes da vida, que estamos vivos e vivendo. O maior medo da Hazel era não saber o que aconteceria com as pessoas ao redor dela que iam ficar vivas quando ela morresse mas o que ela parece não perceber é que não há garantias, pra ninguém, a mãe dela poderia sofrer um acidente e falecer um dia depois da morte dela e ela nunca saberia. Não faria diferença a preocupação dela.


(provavelmente vou fazer um post traduzindo a letra dessa musica)

Tudo aqui colocado são as minhas interpretações do que eu li sobre o livro e do próprio livro.